sábado, 21 de fevereiro de 2015

Postura de um Missionário da ONU

As Missões de Paz são estabelecidas em países que na sua maioria cansaram de lutar e se encontram em situação muito precária, para se estabelecer uma Missão se faz necessário que as partes beligerantes concordem e o país garanta a segurança das pessoas envolvidas, daí  sabemos que os locais sempre estão em “petição de miséria” como diria a minha finada mãe.
Sabemos que todos tempos problemas e sem deixa-los de lado deixamos nossos lares para ajudar aqueles que tem muito mais problemas que nós, deixamos o conforto da nossa casa e dos familiares para viver em locais como containers, barracas ou em casas em bairros que em nossas cidades seriam bem precários.
Aqui em Bissau eu vivo em um apartamento em um Bairro chamado Chão de Papel, o mais antigo da cidade, problemas temos muitos. Não tem asfalto, mesmo com a casa fechada o dia todo
uma poeira fina entra e toma conta de tudo, sem contar que o prédio é antigo, só dois dos 5 apartamentos possuem energia elétrica.
Falando em energia elétrica, aqui a energia é pré-paga, mas todos os dias falta, são horas sem energia e para isto temos que ter gerador para poder manter o mínimo. E quando se fala de luz se fala de água, aqui ninguém bebe água da torneira, pois não é potável, temos que ferver ou utilizar água mineral para tudo, até para escovar os dentes. Nos banheiros sempre mantemos baldes de 100 litros de água para banho e descarga, pois todo dia falta.
Tenho alguma regalia, trouxe meu vídeo game para me distrair e comprei uma televisão por aqui, em um preço muito alto, porque o preço para nós internacionais sempre é bem mais caro. Outra coisa que tentamos fazer para nos distrair é reunir para comer juntos e fazer algumas confraternizações, toda semana assistimos filmes juntos.
Um grande problema também é a distância da família, tentamos contato diário pela internet quando esta ajuda, muitos gastam grandes quantias de telefone para ligar para suas famílias, no caso da nossa missão ela é Family Mission, ou seja, podemos estar com a família perto, eu pude contar com isso trazer minha esposa para perto.
Problemas acontecem no Brasil também e ficamos
mais nervosos que o normal, temos que gerenciar as coisas a distância e isto é muito estressante.
Mas temos que falar do lado bom, aqui podemos ser uteis, aprender muito, transmitir conhecimento, em uma missão como a UNIOGBIS é preciso policiais que queiram fazer a diferença
e tenham habilidade em todas a áreas, para se ter ideia estou como ponto focal em uma unidade modelo e estou assossorando desde o comandante até os policiais na rua, com estabelecimento de procedimentos, ensinando técnicas, gerenciando conflitos e estimulando. Além disto tudo tem a questão do idioma, eu trabalho o dia inteiro com pessoas falando Kriol guineense, ao chegar na UNIOGBIS meu companheiro é espanhol e os documentos que temos que fazer todos os dias são em inglês.
É um aprendizado intenso e muito gratificante, só temos que renunciar a nós mesmos e servir da melhor forma. Então antes de vir para a missão prepare corpo, alma e espírito. Temos que estar sempre prontos e altivos, nunca demonstrar nosso cansaço e tristeza. Altruísmo é a palavra chave.

UN Never sleeps

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2015

Abnegação durante a missão

Quando somos chamados para servir ao próximo temos que estar prontos e dispostos a embarcar no próximo navio e como sempre não conseguimos realizar todos os desejos e necessidades antes, por isto temos que estar prontos para abnegar de algumas coisas e ver positivamente todas as situações. Hoje foi meu casamento, um dia especial e que vai entrar para minha história e alguns vou achar estranho porque eu estou na África e minha esposa no Brasil. Mas vamos ao início.
Tudo começou quando eu e minha esposa resolvemos morar juntos e começar nosso relacionamento conjugal, estávamos até então impedidos de nos casar, pois eu estava em meio a um processo de divórcio complicado, o qual se arrastou por anos.
Durante este tempo nossa vida continuou inalterada e vivíamos como sempre muito bem, apareceu a oportunidade de fazer a seleção para Missão de Paz, como sempre perguntávamos aos outros sobre como seria e quanto tempo levaria até a primeira missão, todos diziam de 6 meses a até anos, mas como já sabem fui convocado quase que imediatamente e neste meio tempo o processo de divórcio se concluiu e com todos os impedimentos por terra começamos o processo legal para o casamento, acreditávamos que mesmo eu sendo convocado as etapas seguintes seriam longas, aos moldes dos outros, mas não veio tudo muito rápido e com data marcada para a minha viagem. Com tudo isto tentamos solicitar a dispensa de proclamas para casar antes do recesso jurídico de final de ano, mas foi negado.
Veio meu “deployment” e vim para a missão, mas a vida continua e como estava programado o processo de casamento seguiu e no dia de hoje me casei.
Em honra a minha esposa, limpei a casa, coloquei a melhor farda (até me perfumei), preparei o ponto e torci para a internet ajudar e graças ao bom Deus, tudo deu certo.
Pela internet acompanhei toda a celebração feita pela Juiza de Paz que mais amo a Dr. Sandra, minha amiga-advogada-tia, me emocionei com as palavras dela e ao ver pela tela do computador a mulher que eu amo. Aprendi sobre o “pequi” que é o casamento, quer saber mais pergunte a Sandrinha, fiz caretas pela câmera para meus amigos Maira e Oliveira, sacaniei com meu irmão Alexandre e mandei beijos e declarações de amor para minha esposa.
Por um lado triste por não poder estar lá, mas por outro feliz e honrado por estar rodeado de pessoas de tão elevada estirpe como os que Deus colocou ao meu redor.

Hoje sei que a abnegação faz parte da minha vida de serviço ao próximo, pois não sei porque, eu tenho mais felicidade do que tristeza nestas coisas e hoje posso como um BOINA AZUL dizer: Fui realmente feito para servir e proteger.